A herdeira fugitiva do lado: Por que o Brasil é fascinado por Margarida Bonetti

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Apr 10, 2024

A herdeira fugitiva do lado: Por que o Brasil é fascinado por Margarida Bonetti

Em SÃO PAULO, Brasil Nesta megacidade congestionada, uma grande e antiga casa apodrece em uma rua lateral tranquila, lado a lado com os luxuosos arranha-céus que substituíram seus grandes e antigos vizinhos por muitos anos

In SÃO PAULO, Brazil

Nesta megacidade congestionada pelo trânsito, uma grande e antiga casa apodrece numa tranquila rua lateral, lado a lado com os luxuosos arranha-céus que substituíram os seus grandes e antigos vizinhos há muitos anos.

Samambaias atravessam balaustradas que ficaram mofadas e pretas. Uma camada espessa de tinta ondulada se desprende, expondo paredes de concreto em desintegração. Sol e chuva correm pelas feridas dos beirais.

Numa tarde, não muito tempo atrás, meninos escalavam uma saliência de pedra que margeava a calçada e que manteve o mundo afastado durante o longo e sórdido declínio da casa. Eles ficam na ponta dos pés, olhando através das aberturas nas chapas de metal e nas cercas de ferro que sustentam a parede. Eles esperam ter o mais fugaz vislumbre do último habitante remanescente desta relíquia frágil das classes altas de uma época passada, uma figura que às vezes aparece, quase como uma ilusão, atrás de vitrais que retratam paisagens marítimas idílicas e paisagens pastorais.

Eles a chamam de “uma bruxa” – a bruxa.

Há mais de duas décadas ela é objeto de curiosidade neste enclave chamado Higienópolis, bairro cujo nome significa cidade da higiene ou limpeza. Ela caminhou durante anos pelas ruas arborizadas, passeando com seus cachorros (Ebony e Ivory), com o rosto obscurecido por um creme branco e viscoso. Ela podia ser cordial e discreta, mas também era propensa a explosões por causa de assuntos tão mundanos quanto equipes municipais cortando galhos de árvores que ela gostava.

Aqueles que a encontraram pela primeira vez puderam sentir uma pontada de simpatia. Aqui estava uma pessoa que vivia na miséria.

Uma vizinha, que trabalha como doula, quis instintivamente estender a mão para a mulher, ajudá-la. Um jornalista curioso também se sentiu atraído pela mulher e pela sua história, na qual ele viu originalmente uma história de abandono social. Ambos queriam saber mais sobre ela.

O que eles aprenderam é que ela tinha um segredo obscuro.

Ela estava escondida à vista de todos há quase um quarto de século, uma fugitiva da justiça americana, acusada em uma acusação federal, junto com seu então marido, de não pagar um servo que trouxeram do Brasil, que vivia sob condições brutais. e condições de abuso físico, essencialmente escravizados em sua casa em um subúrbio de Washington, DC.

Os promotores queriam puni-la pelos crimes que tinham certeza de que ela cometeu. O FBI estava na perseguição. Mas Margarida Maria Vicente de Azevedo Bonetti escapou.

Agora, depois de tantos anos, as perguntas sobre ela têm respostas, e com essas respostas vem uma notoriedade preocupante. O Brasil inteiro está obcecado por ela.

As muitas vidas de Margarida Bonetti - filha privilegiada, expatriada, acusada de criminosa, fugitiva internacional, sensação da internet - vêm à tona pela primeira vez no podcast de sucesso em português do jornalista brasileiro Chico Felitti “A Mulher da Casa Abandonada” – “A Mulher na Casa Abandonada” .”

Outros detalhes saltam das centenas de páginas de registros judiciais revisados ​​pelo The Washington Post, bem como de novas entrevistas com muitos dos atores importantes da saga no Brasil e nos Estados Unidos. Mesmo com essa riqueza de pistas, Bonetti continua sendo um enigma, um amálgama de evasões, mentiras e distorções.

Uma série de nomes notáveis ​​aparece na longa trilha que Bonetti deixou. Entre eles estão o juiz da Suprema Corte dos EUA, Brett M. Kavanaugh, que representou seu ex-marido pro bono enquanto exercia prática privada; A mãe de Kavanaugh, Martha Kavanaugh, que atuou como juíza em aspectos de um processo civil relacionado; e Steven Dettelbach, diretor do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, que, durante seu mandato como promotor federal, julgou o ex-marido de Bonetti pelas mesmas acusações das quais ela se escondia no Brasil.

Margarida Bonetti, que não respondeu aos pedidos de entrevista feitos por telefone, por escrito e pessoalmente, esteve todos estes anos protegida pela proibição constitucional brasileira de extraditar os seus cidadãos. Bonetti, de aproximadamente 70 anos, disse que não fez nada de errado. Em uma entrevista desconexa no podcast de Felitti, Bonetti – falando periodicamente na terceira pessoa, referindo-se a si mesma como “a Margarida” – reclamou que o FBI “criou uma personagem” que não era nada parecida com ela na vida real.